Em um de seus trabalhos mais ambiciosos, Pethit repagina o mito grego de Orfeu na caótica e urbana São Paulo

- Artista: Thiago Pethit
- Álbum: Mal dos Trópicos (Queda e ascensão de Orfeu da Consolação)
- Lançamento: 15/03/2019
- Gravadora: Trabalho Independente
Nota: 8,5/10
Melancólico, épico e poético – após 5 anos do aclamado “Rock’n’Roll Sugar Darling”, Thiago Pethit retorna com seu triunfal “Mal dos Trópicos (Queda e ascensão de Orfeu da Consolação)”.
Lançado na ultima sexta-feira, 15/03, “Mal dos Trópicos” é o quarto álbum de estúdio do cantor e compositor paulista Thiago Pethit. Com produção assinada por Diogo Strausz, a obra conta com fortes influencias da música erudita, criando uma atmosfera épica para a trajetória do eu lirico.

“Volto, volto, volto
Eu que sou filho do sol
Volto, luto e choro em pleno carnaval”
A abertura do álbum fica a cargo de “Abre-alas”, faixa onde os arranjos sinfônicos de Strausz se sobre saem aos versos de Pethit, dando uma dramática introdução ao que esta por vir.

Em “Noite Vazia”, primeiro single e segunda faixa do álbum, somos apresentados as angustias do eu lirico revelando um Orfeu cheio de solidão, desamor e dependência emocional.
“Me Destrói” é sexy, suja e urbana. A terceira faixa nos transporta para a mente do eu lirico: um local inquieto, quente e desesperador, onde o retorno do amado é desejado e questionado mesmo já tendo a certeza de que ele não voltará. O instrumental da faixa vai crescendo durante a música e a mistura do conjunto de cordas e metais ao som do baixo é hipnotizante.
Já em “Orfeu” temos uma delicada balada com a forte presença do piano. Como o mito grego, Pethit nos deslumbra com sua poesia que, apoiado pela aura fantasmagórica projetada pelos arranjos, nos transporta a um ambiente onde a paixão dos clássicos do teatro e o desespero dos dramas modernos se encontram. Alguns versos podem soar clichê, mas, olhando de maneira geral, funcionam como licença poética para descrever a simplicidade do desejo do eu lirico.
Com um clima dramático, “Teu homem” fala sobre a a necessidade de estar e ser do outro. Na canção, Pethit descreve um ambiente caótico mas que não parece incomodá-lo, pois só o faria se o amado estivesse ali. Analisando de forma mais profunda, a faixa conta com sutis criticas ao cenário politico atual.
É dificil escutar Rio e não se afogar em sua profunda poesia. Seu inicio imponente dá lugar a um samba minimalista, onde o violão e um sutil coral adornam a dolorosa suplica de Orfeu.

“Nature Boy” é uma releitura do clássico de 1948 cantado por Nat King Cole . A canção recebe uma roupagem crua e melancólica, com um grande contraste entre o interprete e o coral.
Temos uma das maiores fusões de gêneros em Mal dos Trópicos, onde o Trip hop, o Erudito e o Samba se encontram nos trechos inspirados nas obras do poeta Roberto Piva. Entre versos cantados e falados, somos guiados ao desfecho épico da obra onde a tragédia anunciada se concretiza.
A faixa “Samba de Orfeu” é a continuação do instrumental presente na faixa “Mal dos Trópicos”, finalizando o álbum em samba.
Mal dos Trópicos é a melhor síntese entre seus trabalhos anteriores e sua brasilidade ainda não exposta. Mesmo que, em alguns momentos, os vocais de Pethit sejam sobrepostos pela grandiosidade dos instrumentais, não podemos deixar de apreciar a beleza desta releitura. A obra é coesa, diversa e tem seu conceito bem desenvolvido, mostrando a capacidade do artista se reinventar a cada projeto.
Você pode conferir a obra no player abaixo:
Thiago Pethit – Mal dos Trópicos: DOWNLOAD